Giram no sacolejo do pulso
Acidentes de percurso
Contato quase que avulso
O toque é aleatório
No ritmo do envoltório
São dois dados num copinho, esses dois
Dançam os cubos de gelo
Se atraem sem apelos
Como a mão para o cabelo
O tesão do emaranhado
Não tem valsa, nem congado
Só um bailar consumado
São dois dados num copinho, esses dois
Roda o disco, muda a faixa
Ela cai, ele se abaixa
Pisando na contramarcha
São bolinhas de loteria
Sem prêmios e sem regalia
Só uma saiu. Agonia
São dois dados num copinho, esses dois
Se batem, se chocam, se beijam
Se afastam e se cortejam
Um venta, o outro veleja
Ela chora, ele se assanha
É um manancial que banha
Azar de sorte tamanha
São dois dados num copinho, esses dois
Um desencontro cabal
O randômico do igual
Uma rotina fractal
Pois nem mesmo Deus palpável
Teria palpite inegável
Desse amor tão improvável
São dois dados num copinho, esses dois.